Nem foi Amor à primeira vista. Mas, ao final, eu nem tenho certeza de que os melhores amores são aqueles que ocorrem à primeira vista. O nosso, definitivamente, não foi à primeira vista.
Eu nem saberia dizer o momento exato em que começou. Mas acho que nisso consiste o Amor, de não se saber exatamente quando começa – e, certamente, do fato de que ele nunca se acaba completamente.
Também não saberia dizer o que me faz Amar. Mais uma vez: talvez Amar também consista em não saber exatamente o que se Ama...
Pois. Foi assim. Sem saber exatamente quando e por que começou, e com a certeza de que nunca irá acabar.
Talvez tenha sido esse som...
Quando me remeto à
primeira vez em que me senti amando, é a
lembrança do
som que me vem à
mente.
Eu caminhava numa das ruazinhas secundárias do
Parque Del
Retiro e ouvi. E
me aproximei. E vi. Eram
dezenas,
talvez centenas de
patins e
aquele som gostoso que fazem as
rodas em contato com o
asfalto. E sorri. E olhei as
árvores em volta, e aquela
luz desmaiada de uma
tarde de
primavera na
copa das
árvores, e as
famílias, e os
carrinhos de
bebê, e os velhinhos e
suas bengalas, e os
solteiros e
seus cachorros, e os
agasalhos, e as
bufandas... E
me vi fazendo
parte disso
tudo.
Talvez tenha sido
aí que me apaixonei
por Madri. E
não tenho
como explicar,
porque não se
Ama uma
cidade só porque ela tem
um parque agradável onde se
anda de
patins, 12
linhas de
metrô e
bocadillos de calamares.
Ou porque tenha
ido ver exposições dos
pintores,
fotógrafos e
escultores mais consagrados.
Ou porque haja musicais e
shows a
disposição. Ou por causa do frio, por causa do calor, por causa da noite, por causa da luz, por causa de...
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Eu costumo dizer que há cidades fáceis e cidades difíceis de gostar. Não porque as segundas tenham menos méritos que as primeiras. Salvador, por exemplo, não é uma cidade fácil de gostar, porém quem gosta, Ama de paixão. Rio, Paris, Londres, Barcelona, facílimas. Mas, como dizia Vinícius,
Senão é como amar uma mulher só linda; e daí?
Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza
Qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado,
Uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher,
Feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor
E para ser só perdão
Madri não é uma cidade qualquer. Não é uma cidade para chegar, ver e sair. Madri, como Salvador, não é uma cidade “só linda”. É uma cidade para se viver. No futuro, não vai me adiantar vir passar uma, duas, três férias em Madri. Nunca vai ser suficiente. Nunca vai ser igual.
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Madri, ainda é um pouco cedo para despedidas, eu sei, mas eu vou morrer de saudades.