Cabelo? Mas que cabelo?
Mas vamos começar do começo... Na verdade, desconfio que a minha vontade/ansiedade/fixação/paranoia de querer morar na Europa mais uma vez tenha um só motivo: eu precisava que a Europa me visse magra.
Aí vocês me perguntam: - Europa?
Mas quem é essa
tal de Europa? Uma meninota
que você pegou na
cama com aquele seu namoradinho
inglês? Uma
rival que falava
business english melhor do
que você no
curso? Uma loira
aguada sueca
que tirava
onda de serem
elas as
mulheres reconhecidamente
mais bonitas do
mundo? Uma
fulana metade gaúcha,
metade pernambucana?
Quem é essa
tal de Europa
tão importante que fez
você querer atravessar o
atlântico,
morar em "terras estranhas” mais uma
vez,
gastar uma bufunfa
danada, só para ser vista por ela magra?
Opção número zero: é o continente mesmo. Eu queria que o continente europeu me visse magra.
Explico. Coisa mais triste foi a cara das pessoas na minha volta pro Brasil há... hum... oito anos. Eu não sei porque cargas d’água eu fiz aquela convocação geral e reuni umas trinta pessoas no aeroporto. Eu estava 15 quilos mais gorda! Quem quer ser apresentada à sociedade assim? Eu, né. Euzinha Sena de Souza Marques. E a cara das pessoas só podia ser uma: pena, susto e pavor misturados numa mesma expressão. Primeiro o susto. À medida que os batimentos cardíacos iam voltando ao normal, pavor. Pra terminar, uma pena profunda. Ao final tomava forma essa expressão indefinida que reunia as três coisas. Triste, eu sei. Mas foi assim.
* Pior foi que teve festinha depois e a cara remexida do povo continuou lá, inalterada. A isso se somaram uns fuxicos aqui e ali – porque na minha cara ninguém iria dizer nada. Já bastava estar gorda, mas ter isso jogado na cara era um pouco demais. Obrigada aos amigos que se limitaram a fuxicar entre si e não me fizeram passar trinta vezes pelo comentário: - engordou um pouquinho, né, Minha? *
Bom, voltei. Aqui estou eu. Linda e magra pra que a Europa me veja e eu possa esfregar em sua cara que, sim, eu sou capaz de ficar por aqui sem cair de boca em zil kit kats. Uma palavra descreve: orgulho.
Que bom, hein?
Sim. Seria ótimo se eu não fosse, original e internamente, uma pessoa ansiosa. Digo internamente porque quem olha, nem percebe. Aparentemente sou super calma, só que explodo por dentro e aí tenho alergias, azias e, pior de tudo, queda de cabelo.
Que-da-de-ca-be-lo.
Quer dizer... Cascata de cabelo. Catarata de cabelo. Foz-do-Cabelo. Sete Quedas do Cabelo. Cabelo Falls.
Muita pena de quem mora comigo. Muita pena. Muita pena de quem faz curso comigo, de quem pega metrô comigo, de quem senta ao meu lado nos restaurantes e cafés. Muita pena.
Então agora eu fico
assim, impossibilitada de
puxar o
cabelo.
Gil que me perdoe,
mas nada de
puxar cabelo por aqui. Estou
mais é
para fazer uma
campanha:
Preservem os Fios de Cabelo da Baiana Amalucada
Você, barceloneta! Você, turista! Que anda por aí e esbarra a todo o tempo em cabelos por todos os lados, não fique com raiva! Tenha pena dessa pobre baiana que não pode controlar sua ansiedade e, apesar de manter os cabelos presos, para o bem de todos e felicidade geral da nação (catalã), não pode evitar que um ou outro escape. Ajude nessa causa! Junte 10 fios de cabelo e troque por uma fitinha do Senhor do Bomfim.
*Todos os fios serão revertidos para a confecção de uma peruca a ser usada pela própria baiana quando necessário.