sexta-feira, 25 de março de 2011

Añoranza

Vejam bem como é essa coisa de nostalgia:

Não sei exatamente do que sinto, não sou especial admiradora do povo espanhol nem nada, de lá gosto (muito) da comida e gosto (muito) do flamenco. Também é um país lindo, mas o é como tantos outros.

Mas a nostalgia...

Eu voltei a malhar. Várias vezes eu olhava pro meu tênis de corrida, que, por última vez, havia sido usado para correr no parque do Retiro, e pensava que, quando eu voltasse a correr ele ia terminar por soltar o que (de mim?) nele havia ficado impregnado: a terra batida do chão do parque, a poeirinha, as folhas secas de outono, os insetos, os cocôs de cachorro, a saudades de uma Madri que existiu para mim, dentro de mim, por um tempo.

E eu sempre recebo e-mails da biblioteca que eu frequentava em Barcelona. Eles vêm em catalão e dizem, sempre, que vêm "De: Llegir sempre surt a compte”, com o "Assunto: Descomptes Biblioteques de Barcelona”. Eu não entendo – ou, sequer, leio – o que vem no corpo do e-mail, mas deixo lá na minha caixa de entrada, sempre, até que chegue um novo e-mail "De: Llegir sempre surt a compte", com o "Assunto: Descomptes Biblioteques de Barcelona" e eu apago o mais antigo, deixando lá o mais novo.

Eu sigo lendo livros em espanhol e não tenho vontade de voltar a ler literatura escrita em português.

Eu me programo durante a semana para comprar os ingredientes e, finalmente, fazer a experiência de cozinhar uma paella esse final de semana.

Eu voltei para as classes de flamenco, mas fico perambulando de escola em escola aqui em Salvador para ver qual método de ensino é mais parecido com a forma como eu aprendia flamenco por lá.

Eu desejo que o outono soteropolitano tenha qualquer coisa, qualquer coisinha de amarelo, e fico feliz quando vejo o vento balançar uma árvore e uma ou outra folhinha cair, seca.

(…)

A poeirinha na sola do meu tênis já soltou. É um tênis com terra, folhas, cuspes e cocôs de cachorro genuinamente brasileiros.

Os e-mails seguem na minha caixa de entrada, sabe Deus quando – e se um dia – terei vontade de apagá-los.

Esse blog continua aqui, para que eu possa chorar no seu ombro quantas e quantas vezes eu sentir saudade.

Olé.