domingo, 5 de dezembro de 2010

Um dia

Um dia eu vou parar de sentir o cheiro do meu protetor solar e me lembrar de Madri. Um dia as minhas malas estarão todas desfeitas e eu não vou precisar puxar do seu fundo roupas aleatórias que ainda têm o cheiro de Madri. Um dia eu vou digitar no meu navegador uma letra qualquer, para chamar um site qualquer, e o “el tiempo en Madrid”, o “El País”, o “madrid.salir” ou o “guia del ócio de Madrid” não serão mais as primeiras opções sugeridas. Um dia eu vou acordar e não vou ter mais este sentimento de que a ordem normal das coisas seria se agasalhar e ir tomar um café na esquina antes de começar o dia. Um dia eu vou voltar a ser mais uma motorista displicente e irritada no trânsito soteropolitano. Um dia eu não sentirei mais tanta falta de tomar um chá com leite achando que o clima é apropriado para isto. Um dia eu pararei de procurar calamares no cardápio do restaurante espanhol de Salvador e vou passar a achar gostosa a sua paella feita com arroz parboilizado. Um dia eu paro de me arrepender de não ter trazido mais souvenires, um avental de flamenquita, de não ter acordado mais cedo todos os dias. Um dia eu paro de procurar grandes museus, shows e exposições na programação cultural de Salvador.

Um dia eu volto para definitivamente.

Um dia.


*****

Este é um blog de viagem. Desta viagem. No dia em que esta viagem se acabar dentro de mim, se acaba o blog também.

Mas só nesse dia.

domingo, 14 de novembro de 2010

Memórias Póstumas

Eu visualizo os períodos de grandes viagens assim: é como se a nossa vida fosse uma linha em que estão sequenciados todos os acontecimentos de forma temporal, lógica e coerente. Aí viajamos, passamos um tempo - 8 meses, 1 ano, 2, não sei. Então, dessa linha temporal, lógica e coerente, que tem um grande caminho percorrido para trás e um caminho desconhecido por vir, é cortado aquele pedacinho, o pedacinho referente àquele período da viagem, e posto um pouco acima, à parte, separado da vida que corre linearmente ali embaixo.

A gente volta e (re?)descobre nossa família, nossa casa, nossos amigos, nossas roupas (argh!), nosso clima, nosso verde, nosso time voltando à primeira divisão... Às vezes parece que nunca havíamos ido. Parece que não passou aquele frio, aquelas conversas em espanhol com aquela gente de tantos países, aqueles passeios de patins pelo parque, aquele flamenco, parece que nada passou. A impressão que tenho é de que, quando tiraram da minha “linha” da vida aquele pedacinho correspondente ao período da viagem, juntaram as pontas que antes haviam ficado soltas e a vida seguiu exatamente do ponto onde havia parado – à parte do fato de que dentre as primeiras frases de minha mãe estava “eu estava te esperando para montarmos a nossa árvore de Natal”. E já é Natal de novo, quando eu havia saído, justamente, logo após o Natal.

Sem mais, foi bom demais.

E vai ser melhor ainda daqui para frente.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Acho que a gente tem que aprender a dar valor às coisas que têm valor, sabe?

Por exemplo, são seis toalhas de banho, mais dois roupões, mais duas toalhas de chão e, quando fomos ao SPA que está incluído nas duas diárias a 100 euros, havia mais duas toalhas. Olha, gente, definitivamente, quantidade de toalhas disponíveis é algo a se levar em consideração num hotel. Eu estou realizada.

*****

Eu entrei aqui para dizer que estamos fechando de puta madre a nossa temporada europeia nesse hotelzinho aqui, na serra perto de Madri. Altamente recomendável, ainda mais com essa promoção que pegamos.

No mais, agorinha mesmo está nevando.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O dia em que o coração sentiu

Acho que hoje, por fim, eu entendi aquela máxima: “o que os olhos não veem...”

Porque tem coisas que a gente sabe que existem, e até se defende delas (por antecipação) um pouco, mas daí que vejamos com nossos próprios olhos o que apenas supúnhamos, que descubramos a verdade, é um longo caminho.

*****

Foram quatro meses em Barcelona. A cidade não me agradava muito. Não por questões estéticas – é belíssima, como todas as outras cidades européias que visitei – e demorei para conseguir traduzir o que não me agradava por lá. Terminei por descobrir que o catalão trata o resto da Espanha como os sudestinos e sulistas tratam o Norte e Nordeste do Brasil e, por isso, por sentimento de identificação e irmandade, passei a amar a Andaluzia e sua “preguiça”, sua vocação para festas e seu jeito “errado” de falar.

E Juan sempre reclamava comigo quando eu dava uma esculhambada em sulistas. Ora, vejam bem, eu nunca fui ao sul do Brasil. Reclamava porque sei que nordestino é discriminado do Espírito Santo pra baixo e me sentia na obrigação de esculhambar de volta, mas, em essência, não tinha nada contra ninguém. Nenhum argumento depreciativo. Se me perguntassem por que eu esculhambava o Sul, eu dizia: - Porque eles esculhambam a gente.

*****

O povo fica me perguntando se eu vou me adaptar na volta ao Brasil. Antes de vir, muita gente apostava que eu ficaria por aqui. Uma informação valiosa sobre mim, pessoal: eu sou neta de Dr. Zinaldo e com ele aprendi que um filho do Brasil não foge à luta. Viajo para conhecer, viajo para passear, viajo para ter experiências diferentes, povos, cultura e gente diferente. Conhecimento. Mas eu volto. Com certeza, eu volto.

E outra, volto porque nunca conseguiria viver num lugar onde fosse discriminada. Nunca conseguiria conviver com gente que me olha atravessado porque eu nasci na América do Sul, porque nasci no Brasil, porque nasci no Nordeste, porque nasci na Bahia, porque nasci em Salvador. Nunca. Não por medo ou covardia de enfrentar, mas porque o preconceito é a pior das estupidezes, a pior das burrices, a pior das ignorâncias. Eu não mereço o desprazer de conviver com gente preconceituosa. Não, obrigada. A estes, afundem-se, por favor, no excremento que é o preconceito.

*****

E hoje ganha Dilma Rousseff, primeira mulher presidente do Brasil. Eu sou de esquerda, todo mundo sabe. Revolto-me com corrupção e safadeza, claro, mas na minha balança meu voto este ano estaria definido para o primeiro e para o segundo turno: seria 13. E ocorre que o povo votou por mim e temos Dilma presidente.

Estivemos ansiosos, debatemos à exaustão - eu diria que muito mais do que um casal costuma debater política e ideologia -, nos sentimos culpados por não estar aí e votar, mais uma vez, a favor do povo, a favor da redução das desigualdades, a favor do crescimento e do protagonismo internacional do Brasil.

E, daqui de longe, vencemos.

*****

Um dia eu fiz a besteira (?) de entrar no twitter. Sigo um punhado de pessoas e instituições, às vezes rio, às vezes nada, mas nunca me comunico com gente por lá. Mas aí hoje cacei repercussões da eleição de Dilma e, de repente, vejo uma sugestão de que busque, dentro do twitter, a palavra “nordeste”.

Busquei.

Não sei bem o que se inaugura no Brasil com o que vi. Com a vitória de Dilma nos estados do Norte e Nordeste, o twitter foi invadido por uma onda de preconceito que eu, brasileira, nordestina, baiana, soteropolitana, nunca havia imaginado na minha vida.

(...)

Eu nunca havia imaginado.

(...)

O que os meus olhos, até hoje, não tinham visto, eu preferiria que o meu coração nunca tivesse sentido.

Oxalá a “raça ariana” nunca mais volte ao poder.

Oxalá.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

De Amor e da perspectiva de saudade

Nem foi Amor à primeira vista. Mas, ao final, eu nem tenho certeza de que os melhores amores são aqueles que ocorrem à primeira vista. O nosso, definitivamente, não foi à primeira vista.

Eu nem saberia dizer o momento exato em que começou. Mas acho que nisso consiste o Amor, de não se saber exatamente quando começa – e, certamente, do fato de que ele nunca se acaba completamente.

Também não saberia dizer o que me faz Amar. Mais uma vez: talvez Amar também consista em não saber exatamente o que se Ama...

Pois. Foi assim. Sem saber exatamente quando e por que começou, e com a certeza de que nunca irá acabar.

Talvez tenha sido esse som...

Quando me remeto à primeira vez em que me senti amando, é a lembrança do som que me vem à mente. Eu caminhava numa das ruazinhas secundárias do Parque Del Retiro e ouvi. E me aproximei. E vi. Eram dezenas, talvez centenas de patins e aquele som gostoso que fazem as rodas em contato com o asfalto. E sorri. E olhei as árvores em volta, e aquela luz desmaiada de uma tarde de primavera na copa das árvores, e as famílias, e os carrinhos de bebê, e os velhinhos e suas bengalas, e os solteiros e seus cachorros, e os agasalhos, e as bufandas... E me vi fazendo parte disso tudo.

Talvez tenha sido que me apaixonei por Madri. E não tenho como explicar, porque não se Ama uma cidade porque ela tem um parque agradável onde se anda de patins, 12 linhas de metrô e bocadillos de calamares. Ou porque tenha ido ver exposições dos pintores, fotógrafos e escultores mais consagrados. Ou porque haja musicais e shows a disposição. Ou por causa do frio, por causa do calor, por causa da noite, por causa da luz, por causa de...

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Eu costumo dizer quecidades fáceis e cidades difíceis de gostar. Não porque as segundas tenham menos méritos que as primeiras. Salvador, por exemplo, não é uma cidade fácil de gostar, porém quem gosta, Ama de paixão. Rio, Paris, Londres, Barcelona, facílimas. Mas, como dizia Vinícius,

Senão é como amar uma mulher linda; e daí?
Uma
mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza
Qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado,
Uma
beleza que vem da tristeza de se saber mulher,
Feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor
E
para ser perdão

Madri não é uma cidade qualquer. Não é uma cidade para chegar, ver e sair. Madri, como Salvador, não é uma cidade linda”. É uma cidade para se viver. No futuro, não vai me adiantar vir passar uma, duas, três férias em Madri. Nunca vai ser suficiente. Nunca vai ser igual.

*****

Madri, ainda é um pouco cedo para despedidas, eu sei, mas eu vou morrer de saudades.

sábado, 16 de outubro de 2010

Quase atleta



Um dos projetos ainda factíveis para 2010 é o de virar atleta.

Não riam.

Aindatempo.


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me imagino voltando para o Brasil e chegando na academia para me inscrever. O instrutor, então, vai me perguntar: - Está sedentáriaquanto tempo?.

Gente, eu vou rir. E a risada vai ser gostosa.

E vou responder: - Sedentária, meu jovem? Eu? Por favor. Por-fa-vor! Eu sou viajante. VI-A-JAN-TE. Você, rapazinho, sabe o que quer dizer isso? Não sabe? Quer dizer que eu sou aquela pessoa que anda. Anda muito. Anda demais. Eu sou aquela pessoa que prescinde do ônibus ou do metrô e anda três, quatro quilômetros para chegar ao seu destino. Eu sou aquela pessoa que sobe ladeiras, sobe escadarias de 500 degraus para ver a vista das cidades, sou aquela pessoa que leva quase 15 quilos na mochila, mais um mochilinha que fica pendurada na frente, mais uma bolsa em uma das mãos com os presentes quebráveis que comprei ao longo do caminho, mais um guarda-chuva colorido que Juan me deu de presente. Sou aquela pessoa que a cada dois ou três dias teve que trocar de albergue. Meu rapaz, você tem certeza de que acha a pergunta do “sedentáriapertinente? Querido, eu sou uma viajante, o que quer dizer que eu sou quase uma atleta. Agora, por favor, castigue na minha ficha de malhação que eu não tenho tempo a perder.


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Dia desses saímos por Barcelona e nos deparamos com uma Sardana. É uma dança catalã, entrem no link para conhecer melhor. Eu e Carol, animadíssimas, nos juntamos ao grupo de catalães e de não catalães que tentavam acompanhar. Dançamos umas cinco músicas, suamos, demos risada deles, da gente e dos catalanismos, foi uma maravilha. Nem achei que ia, mas me diverti bastante.


Uma Sardana em toda a sua complexidade.
Porque os “estrangeiros não conseguem acompanhar”...

Dia seguinte, acordo com uma dor nas pernas... Hummm... Que estranho, viu? O que será isso, meu Deus? Porque dor muscular pelo exercício físico é que não é. Isso seria inconcebível, eu diria impossível, visto que sou uma viajante-quase-atleta. Tenho para mim que foi mau-olhado dos catalães que estavam com raivinha da turistada atrapalhando a dança deles.

É.

Certeza que foi isso.


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Bom, com respeito ao meu Projeto Atleta 2010, digo, em minha defesa, que hoje foi o sexto dia que fui correr no Parque del Retiro e que diminuí meu tempo em dois minutos.

Quase atleta.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Feliz, feliz, feliz.

Quem comenta aqui são meus amigos e família. Eu adoro que eles leem o blog.

Eu acho super legal quando uma pessoa que eu nem imaginaria que lê o blog - mas, ainda assim, conhecido ou amigo mais distante - me manda um e-mail ou fala no msn que lê e gosta do blog. Mentira. Eu não acho "super legal". Eu fico feliz, feliz, feliz, que nem pinto no lixo.

E eu fico feliz, feliz, feliz, que nem pinto no lixo, quando eu vejo nas estatísticas que tem gente desconhecida que entra aqui regularmente, apesar de não comentar.

E eu me sinto culpada de não postar com mais regularidade e essas pessoas - e também a família, os amigos próximos, os amigos mais distantes e os conhecidos - chegarem aqui e não ter post novo.

E o post de hoje é só para isso, para dizer que a visita de vocês me faz feliz, feliz, feliz, que nem pinto no lixo, e para dizer que me sinto culpada de não postar mais.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Mais um mês

Você tem que dar um desconto, porque existia a possibilidade de se passar entre um e dois anos. Ou seja, as quatro estações. Ou seja, duas vezes cada uma das quatro estações num lugar onde, de fato, existem quatro estações. Variação térmica de -5 a 42 ºC. Não tenho, então, porque ficar com vergonha de pedir um táxi para mim e Juan que vai levar nós dois, três malas enormes (por enormes entenda-se ENORMES), duas mochilas de 65 litros, uma mochila com dois computadores, duas mochilinhas de sabe-se o que, minha bolsa e minha câmera fotográfica. Tenho certeza de que se você imaginar a cena, decerto que não vai conseguir imaginar a cena.

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De todo modo, estou muito feliz de ter de volta o til, o c cedilha, o acento circunflexo e a interrogação onde sempre estiveram, mesmo que isso signifique voltar ao meu notebook da era paleolítica. Como eu dizia sobre o meu primeiro carrinho - um escort hobby, cor de burro quando foge, sem ar-condicionado que me fazia vencer, diariamente, os 35 quilometros que separavam minha casa, em Vilas do Atlântico, da Escola de Administração da UFBa -: é 1000 mas é meu.

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Bom, estávamos de malas prontas - o tema das malas é outra história, e terá que ser contada em outra ocasião -, mas descobrimos que o outono é a estação mais linda de Madri, e vimos as folhas começando a amarelar nas árvores do Parque do Retiro, e ficamos tristes de pegar um vôo semana que vem, e... e... e...

É mais um mesinho .

 mais um, tá legal?

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Inspiração

Ando meio sem inspiração.

Teria uma série de coisas a contar e escrever - fui passear pela Itália e a Itália é, para sempre, o meu país preferido -, mas ando sem inspiração.

Assim que venho aqui a título de informação: parece estar próxima a minha volta e a Itália é meu país preferido, é isso que tenho a informar.

O resto eu conto quando a inspiração voltar.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sem ressaca

Isso não costuma acontecer, de eu emendar um livro em outro assim, na mesma noite. Geralmente fico um tanto quanto ressaqueada e gosto (ou não gosto?) de ler vagarosa e atentamente aqueles últimos parágrafos - enquanto sinto a mão esquerda pesando mais do que a direita - e, em seguida, fechar o livro lentamente. Aí olho para ele e finjo que o analiso de todos os ângulos, e viro o livro, e olho desde cima, dou uma última folheada, mas, em verdade, levo esse tempo pensando nas páginas que vinham me acompanhando, nos personagens, nas situações, em mim.

Em geral preciso de uns dias, quiçá uma semana, para engatar numa nova leitura. É um tempo de recuperação, um assentamento das ideias, um ruminamento, às vezes um luto. Ressaca.

Mas com esse não foi assim.

Hoje matei as minhas saudades da Biblioteca Jaume Fuster e voltei com quatro livros debaixo do braço. Leves, alguns até românticos. Talvez porque Auschwitz, por si só, já são 400 páginas de ressaca. A cada vez que fechava o livro já eram horas de reflexão, angústia, tristeza, pesar. Sofre-se com tudo o que se passa a saber e, talvez mais ainda, com tudo o que, decerto, não se vai saber nunca.

E, assim, a dez páginas do final, precisei respirar Benedetti só um pouquinho, suspirar Beauvoir, a feminista e a apaixonada, folhear Calvino. E como num último suspiro, venci as dez últimas páginas já sabendo que não há final feliz. Não há final.

E fecho o livro, não tão lentamente, sem contemplação. Laurence Rees me roga que não esqueça - e eu não vou esquecer -, mas agora preciso que Simone me devolva a leveza com suas cartas a Algren ou que me ensine a ser mulher com suas memórias.

Sem ressaca.

Porque há coisas que não precisam ser digeridas. Devem ficar, para sempre, entaladas na garganta.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Lope de Vega

Ontem assiti a Lope. De Lope de Vega havia ouvido falar, mas aí, aquela coisa, a gente assiste ao filme e fica curioso. Fiquem curiosos também. Assitam ao filme - não é nada, assim, espetacular, mas, meninas, mesmo sujinho o protagonista vale a pena - e leiam qualquer poema dele.

Segue um lindo, que encerra o filme, para dar um gostinho:

Desmayarse, atreverse, estar furioso,
áspero, tierno, liberal, esquivo,
alentado, mortal, difunto, vivo,
leal, traidor, cobarde y animoso;

no hallar fuera del bien centro y reposo,
mostrarse alegre, triste, humilde, altivo,
enojado, valiente, fugitivo,
satisfecho, ofendido, receloso;

huir el rostro al claro desengaño,
beber veneno por licor süave,
olvidar el provecho, amar el daño;

creer que un cielo en un infierno cabe,
dar la vida y el alma a un desengaño;
esto es amor, quien lo probó lo sabe.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Alô?!

Tem alguém aí?

Ainda tem alguém aí?

Aqui, tem eu. Mas com uma preguiiiiiiça...

É tanta coisa pra fazer na internet que, à frente dela, eu paralizo. E aí que não apago os emails que já deveria ter apagado, não respondo aos que já deveria haver respondido, não pesquiso o que já deveria ter pesquisado...

Mas vamos começar pelo fim: estou em Barcelona. É que, por mais pedante que isso possa parecer, cansei de viajar e a verdade é essa mesmo, não tem outra: cansei. E agora a preguiça, até de me mover, me consome e ir ao mercado comprar o "de comer" é assim, arrastado.

Pois bem, numa explicação bem rápida, da Cracóvia - com direito a dois dias inteiros em Auschwitz - fomos à Praga e, em seguida, eu fiz uma saída estratégica pela direita: enquanto Juan seguiu pra Viena, eu fui pra Genebra, na Suíça. A idéia era encontrar aí um curso de francês legal e ficar um tempinho, mas, tenho que dizer, a Suíça abusa no conceito "alto custo de vida". Simplesmente não rola ficar em um lugar onde se paga 4,50 dólares por um espresso, 5,50 por um misto quente e 9,00 por um kebab. Dólares, pessoal. Não dá. Junte-se que estava fazendo 12 graus e na minha mochila não tinha roupa pra isso. Tudo bem, a Suiça é linda, mas eu substituo pela região dos lagos na Patagônia entre a Argentina e o Chile e fico bem feliz.

Bom, juntei meus panos de bunda e fui pra Lyon, na França, ainda com a mesma ideia. Procurei curso e alojamento, achei e continuei sem saco. Quando eu estou numa viagem e tudo o que eu gostaria de fazer é pegar um cineminha, mau sinal... Pois bem, peguei um cineminha e aí percebi que precisava de "lar", que isso a gente não encontra em todo lugar. Fui na estação e comprei uma passagem pra Barcelona, onde Carol e Paulo me esperavam com Amor, carinho, uma caminha e um banheiro limpos, sem falar no clima de fim de verão espanhol.

Pronto, estou aqui.

Entre dormir, comer e cozinhar, ler, ver tv, dormir, ler e dormir, eu estou feliz. E isso era tudo o que eu precisava.

*****

Para quem ainda não sabe, porque não bisbilhota o meu pseudo twitter, eu cortei o cabelo curtinho. Não, não tenho fotos, porque não tenho computador próprio para baixar as mais de 1000 fotos que estão na minha máquina. Lo siento.

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Sobre fotos, eu fiz um facebook. De novo, não, não tenho tido paciência para aquilo, mas os meus coleguinhas do curso que fiz em Madri e outros amiguinhos daqui postaram coisas lá e acho que quem tem facebook pode ver também. Mas meu cabelo aí ainda estava comprido, lo siento de nuevo, mas pelo menos vocês poderão ver que eu não engordei e isso é muito legal, não é? Legal as duas coisas, que vocês poderão me ver e que eu não engordei.

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No mais, MUITA saudade.

E, mais uma vez, não, não sei ainda quando volto.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Intenso

Eu queria dizer o quao intenso e' dormir em Madri e acordar em Conil de la Frontera, sol pipocando, biquine todos os dias, ouvir espanhol com sotaque fortissimo, flamenco, assim, como se fosse um pagodao na praia, toplesses exagerados..., dormir em Conil e acordar em Sevilha, calor de 41 graus, vento quente, sensacao de ter sido colocada pra secar atras da geladeira, de estar passando por tras de um ar-condicionado, historia espanhola e arabe, igrejas, mesquitas transformadas em igrejas, reis, palacios, paella..., dormir em Sevilha e acordar em Fes, Medina, cheiros, sujeira, ser (muito) enrolado, o barato que fica caro, pechincha, pechincha e pechincha, esgotamento psicologico, choque, arabe e arabes por todos os lados, pobreza, mais calor, couscous, tagine, mesquitas, islam, Alah, burcas... dormir em Fes e acordar no deserto do Saara, areia, calor, areia, calor, areia, calor, camelos, berberes, tunicas, turbantes, estrelas, estrelas, estrelas, estrelas... dormir (duas noites) no Saara e acordar em Marrakech, lindo, lindo, lindo, mais mesquitas, mais Medina, mais turistas, menos sujo, mais palacios, mais arquitetura arabe, mais pechincha e enrolacao, mais bonito, mais cansado... dormir no Marrocos e acordar na Polonia, de 45 para 15 graus, louros, olhos azuis, civilidade e educacao, arquitetura europeia, holocausto, nazismo, comunismo, judaismo, historia viva e recente, garoa, friozinho, outra (boa) comida...

Eu queria dizer o quao intenso e' tudo isso, mas nao da.


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(Eu acentuo o "a" com til e sai "ą". Tento colocar "c" cedilha e sai "ć". Isso e' a Polonia. E a maluca sou eu.)

sábado, 7 de agosto de 2010

Ói nóis aqui!

Em Sevilha.

Morrendo de calor.

Morreeeeeeeendo.

Leque.

3 sorvetes por dia.

É um misto de saudades. Saudades de lá de Madri - porque, definitivamente, nao saciei de Madri - e saudades daí, de casa.

Nao sei, o advento da internet muda as saudades que a gente sente de casa e eu poderia discorrer sobre isso por horas e horas. E poderia também discorrer sobre tantas outras coisas que gostaria de haver discorrido, mas nao o fiz. Aí fico assim. Aqui. No meio termo. No limbo. Com muitas coisas que ficaram como lembranças, outras que vao se apagando, outras que ainda me prometo registrar aqui, com uma viagem que vai correndo, correndo... com perspectivas de outubro, de novembro, com o final do ano, com o natal, o reveillon e os anos que passam.

É a vida.

E eu nao vou corrigir esse post ou sequer relê-lo, é só essa enxurrada confusa e nonsense mesmo.

Nos vemos em Marrakesh?

Amor,

Minha.

sábado, 31 de julho de 2010

Mais uma

O clima é de despedida.

Festinhas, abraços e um chororô danado.

Nem é minha a despedida - a minha já foi sofrida o suficiente, obrigada -, mas eu choro mesmo assim. Porque sou chorona mesmo e porque a TPM sempre ajuda. E ultimamente eu estou de TPM o tempo todo, o mês inteiro.

Bem, hoje cortam a internet daqui de casa. Essa semana saímos daqui rumo a... rumo a... não tenho certeza ainda. A princípio, a Sevilla, mas queria ir a Conil de la Frontera pra ver o tal 'flamenco espontâneo' de que Juan tem falado o tempo todo, então... A ver.

Os posts, aqui, no twitter, em qualquer lugar, vão rarear. Pena.

Aos emails que ainda não respondi, tenham paciência. Amo vocês mas ando com a cabeça a 1000 pra responder emails. Aos que me acompanham aqui, sigam firmes e fortes, porque pretendo deixar drops de felicidade (ai, que pretensiosa!) de quando em vez, mesmo que irregularmente.

E, por ora, é só.

É só uma saída de Madri. Uma coisa sem destino, sem data e sem previsão de conclusão. É só deixar Madri pra trás, essa cidade que merece um  milhão de posts, um milhão de referências, uma milhão de saudades.

Para o alto e avante.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Yo soy español, español, español

Eu nem sei se eles se acham mesmo esse fenômeno desportista internacional. Fato é que depois da Copa, Basquete, Tour de France e a "vitória" de Alonso na F1 esse final de semana, pipocam programas de TV ressaltando as glórias espanholas nos esportes.

Não sou entendida em esporte, mas acho válido que ele seja o motivador de uma tentativa de unificação desse país que tenta se por de pé, apesar de uma perna no País Basco e outra na Catalunha.

E esse aí embaixo é o hino daqui, que eu acho muito lindo porque não tem letra, mas não deixa de passar uma emoção enorme. Se quer acompanhar cantando, nada de lálálá, prepare o seu lôlôlô, que é assim que eles fazem por aqui.



Sem desmerecer a nossa pátria amada salve salve, não é lindo?

Lô lô lôôôôô lôlôlôlôlôlô....

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Atualização:

Achei um vídeo com o lôlôlô!!!

Essa letra que um fulano canta é porque houve uma época que se tentou atribuir uma letra ao hino, mas, ao que me parece, não colou. O oficial é sem letra. O negócio é o lôlôlô!!

domingo, 25 de julho de 2010

Domingo no parque

No silêncio que segue os aplausos da audiência, passa uma menininha. Uns dois anos, se muito. Empurrada no carrinho de bebê, gritacom as mãozinhas em riste, os dedinhos bem abertos, naquele gesto infantil de bater palmas –: “¡Bién! ¡Vamos!

E aplaude. Sozinha.

Ao meu lado esquerdo um senhor. Espanhol. Não pela cara branca, as bochechas vermelhas, a estatura e o porte, mas, sim, pelo jeito como, ao gracejo da menina, tentava segurar o riso. Um riso largo, eu vi, mas não pelo que expressava o canto de sua boca, o músculo contraído, mas pelo quão radiantes estavam os seus olhos...

E a Banda Municipal de Madrid seguiu tocando outros clássicos no coreto do parque do Retiro, ao sol de meio-dia.

Domingo, 25 de julho de 2010.

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Uma última música. Inesperada. Fora do programa. Quando todos se punham de e recolhiam suas cadeiras, encostando-as às árvores, devolvendo-as.

Um público maduro: penteados, cabelos grisalhos, chapéus e leques. Ao som dos primeiros acordes inesperados, param. Ainda de , aplaudem. Incomum aplaudir depois que uma orquestra começa a tocar... Aplaudem efusivamente.

Em seguida, e ao longo de todo o pasodoble, ouve-se o acompanhamento – não ensaiado – murmurado, tímido. Por todos os lados. Preenchem mais do que a música. Naqueles murmúrios, o regozijo de tempos que não voltam mais...