quarta-feira, 23 de junho de 2010

Viva São João!


Respeita, moleque...



"Esse negócio de matar gente no sertão, foi trabaio mais manêro... Menos pra eu. Quis matar um hômi, me lasquei. Levei uma surra tão danada, uma surra caprichada por meu pai e minha mãe, que eu arribei de casa. Dezoito anos incompletos, 1930... Ingressei nas “forças”. Revolução como o diabo. Tiro como o diabo. Nunca dei nenhum... Eu queria ser era artista! Há hai... Ingressei na RCA, onde estou até hoje, graças a Deus!

era artista! Artista do Nordeste! Meu sonho! Comecei a sentir saudade de casa. Homi... pelo cartaz que eu tenho, eu acho que pra voltar... Eu quero dar uma surpresa danada a meu pai, a surpresa vai ser tão grande que ele nunca mais vai esquecer na vida dele!

Regressei. Cheguei em casa de madrugada. Tô ali, naquela madrugada sertaneja, frente a frente com a minha casa.

Chamei:

- Ô de casa! (...) Ô de casa!!

Me lembrei do prefixo:

- Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo!
- Para sempre seja Deus louvado.
- É Seu Januário?
- Sim, sinhô.
- To vindo do Rio de Janeiro, seu Januário. Trago um recado pro sinhô. É do fio do sinhô. Mandô até uma coisinha pra lhe entregar. To morrendo de sede... Quando vim de traga um copo d’água pra mim. Copo, não! Traga mesmo um coco!

Haha... Fiquei olhano pela greta da janela. vinha o véio acender o candinheiro. Escutei o dibungado do caneco no fundo do pote... No fundo do pote, no fundo! “Dibungo”.

vem o véio pelo corredor. Caneco numa mão, o candinheiro numa outra. Chegô mermo na janela que eu tava. Arriou o copo d’água no batente da janela. Tirou a tramela... Abriu a janela em cima de mim. eu senti o cheiro dele... Aquele... aquele cheiro antigo. Aquele cheiro meu... Ha. Ele encadinhou-se, levantou o candinheiro acima da cabeça e me interrogou:

- Quem é o sinhô?
- Luiz Gonzaga, seu fio.
- Isso é hora de você chegar em casa, seu coisa. Santana! Gonzaga chegou!
- Viva Deus!

E a meninada:

- Êeeeeeeei!!!

Menino como o diabo... Irmão que eu num conhecia... Haha. ninguém dormiu mais.

De manhã cedo a casa tava cheia de gente... eu digo: agora eu vou fazer bonito, vou cantar presse povo. Desembainhei a sanfona e mandei brasa. Quando eu pensei que tava agradano, Raimundo Jacó gritou do mei do povo:

- Luiz! Respeita Januário, muleque!

Hahaaaa..."




terça-feira, 22 de junho de 2010

22 de junho

22 de junho. Hoje é dia 22 de junho.

E eu, nesse esquema de comer, dormir e assistir aos jogos da Copa, nem me dei conta: vinte e dois de junho.

ontem minha mãe me falou que hoje viaja para o interior da Bahia. Achei legal. Viajar para o interior sempre é legal. Ar puro, tudo verdinho e friozinho nessa época de inverno, cheiro de mato e de chuva, requeijão frito na manteiga de garrafa, ovo de granja, paralelepípedo, praça, coreto, ir à casa do vizinho tomar café com cuscuz, bolo de milho e de laranja...

Depois uma outra amiga fala que está viajando para Cruz das Almas. , eu:

- Ahn? ? (...) Meu Deus! Vinte e dois de junho! São João, meu senhor Jesus Cristo! Viva São João!

Forró, bandeirola, canjica, amendoim cozido, licor de passas, fogueira, esquenta as mãos e a bunda na fogueira, bolo de aipim, milho cozido, laranja, licor de maracujá, bolo de carimã, amendoim cozido, chapéu de palha, casaco jeans, guerra de espadas, “solta corisco!”, milho assado, bolo de tapioca, amendoim cozido, queijo cuia, licor de jenipapo, “Ô de casa!? São João passou por aqui?”, fumaça, arrasta-pé, rala buxo, cheiro no cangote, violão, amendoim cozido, licor...

Saudade.


PS. Esse texto vai para os meus antigos amigos de Cruz das Almas, que nem leem esse blog e que sequer lembram que já existiu uma "tomatinho", mas que seguirão para sempre na minha lembrança, pois me proporcionaram os melhores "São Joões" da minha vida.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Puxando Cabelo

Cabelo? Mas que cabelo?

Mas vamos começar do começo... Na verdade, desconfio que a minha vontade/ansiedade/fixação/paranoia de querer morar na Europa mais uma vez tenha um motivo: eu precisava que a Europa me visse magra.

vocês me perguntam: - Europa? Mas quem é essa tal de Europa? Uma meninota que você pegou na cama com aquele seu namoradinho inglês? Uma rival que falava business english melhor do que você no curso? Uma loira aguada sueca que tirava onda de serem elas as mulheres reconhecidamente mais bonitas do mundo? Uma fulana metade gaúcha, metade pernambucana? Quem é essa tal de Europa tão importante que fez você querer atravessar o atlântico, morar em "terras estranhas” mais uma vez, gastar uma bufunfa danada, para ser vista por ela magra?

Opção número zero: é o continente mesmo. Eu queria que o continente europeu me visse magra.

Explico. Coisa mais triste foi a cara das pessoas na minha volta pro Brasil há... hum... oito anos. Eu não sei porque cargas d’água eu fiz aquela convocação geral e reuni umas trinta pessoas no aeroporto. Eu estava 15 quilos mais gorda! Quem quer ser apresentada à sociedade assim? Eu, né. Euzinha Sena de Souza Marques. E a cara das pessoas podia ser uma: pena, susto e pavor misturados numa mesma expressão. Primeiro o susto. À medida que os batimentos cardíacos iam voltando ao normal, pavor. Pra terminar, uma pena profunda. Ao final tomava forma essa expressão indefinida que reunia as três coisas. Triste, eu sei. Mas foi assim.

* Pior foi que teve festinha depois e a cara remexida do povo continuou , inalterada. A isso se somaram uns fuxicos aqui e aliporque na minha cara ninguém iria dizer nada. bastava estar gorda, mas ter isso jogado na cara era um pouco demais. Obrigada aos amigos que se limitaram a fuxicar entre si e não me fizeram passar trinta vezes pelo comentário: - engordou um pouquinho, né, Minha? *

Bom, voltei. Aqui estou eu. Linda e magra pra que a Europa me veja e eu possa esfregar em sua cara que, sim, eu sou capaz de ficar por aqui sem cair de boca em zil kit kats. Uma palavra descreve: orgulho.

Que bom, hein?

Sim. Seria ótimo se eu não fosse, original e internamente, uma pessoa ansiosa. Digo internamente porque quem olha, nem percebe. Aparentemente sou super calma, que explodo por dentro e tenho alergias, azias e, pior de tudo, queda de cabelo.

Que-da-de-ca-be-lo.

Quer dizer... Cascata de cabelo. Catarata de cabelo. Foz-do-Cabelo. Sete Quedas do Cabelo. Cabelo Falls.

Muita pena de quem mora comigo. Muita pena. Muita pena de quem faz curso comigo, de quem pega metrô comigo, de quem senta ao meu lado nos restaurantes e cafés. Muita pena.

Então agora eu fico assim, impossibilitada de puxar o cabelo. Gil que me perdoe, mas nada de puxar cabelo por aqui. Estou mais é para fazer uma campanha:

Preservem os Fios de Cabelo da Baiana Amalucada

Você, barceloneta! Você, turista! Que anda por e esbarra a todo o tempo em cabelos por todos os lados, não fique com raiva! Tenha pena dessa pobre baiana que não pode controlar sua ansiedade e, apesar de manter os cabelos presos, para o bem de todos e felicidade geral da nação (catalã), não pode evitar que um ou outro escape. Ajude nessa causa! Junte 10 fios de cabelo e troque por uma fitinha do Senhor do Bomfim.

*Todos os fios serão revertidos para a confecção de uma peruca a ser usada pela própria baiana quando necessário.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Espanha 0 X 1 Suíça

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

Eu sei, eu sei. Corre o risco de a gente pegar a Espanha logo na próxima fase, tenho que ser grata ao país que está me hospedando, blábláblábláhahahahahahaHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

Ai ai...

...

Tudo bem que eu ando chorando até com comercial de cartão de crédito, mas...

terça-feira, 15 de junho de 2010

Copa, claro.

Daí que leve, tranquila e sem voz após o nosso 2 X 1, andando pelas ruas da Barceloneta com a camisa do Brasil e um bandeirinha charmosamente amarrada na cabeça, passo por um grupo de três brazucas, um rubro-negro (carioca?), um outro não-identificado e um muito doido rastafari.

Só me sai: bora Baêa minha pooooorraaaa!!!!!!

No que o muito doido emenda, ainda no meio da minha frase: minha pooooorraaaaaa!!! Mas a sacana é baiana, essa desgraça!!!

Ou coisa parecida.

Claro que sendo, de fato, baiana, não me senti depreciada porra nenhuma.

Subestimei a minha Copa em "terras estranhas"...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Terras estranhas

Eu dizendo à minha mãe que vou correr atrás de brasileiros quaisquer para ver o jogo do Brasil e que, possivelmente, estarei sozinha. Recebo isso como resposta:

“Sei, mas olhe , cuidado pra não colocarem nada em sua bebida
Não ria, não, que tudo pode acontecer em terras estranhas
Vc sozinha......
está mocinha, mas é bom lembrar que não deve acompanhá-los para ap nem lugares escuros nem escondidos ou fechados onde ninguém veja”

Terras estranhas” e “mocinha”.

(...)

Ainda bem que não falei que o bar é perto da praia, senão ainda teria que anotar no meu caderninho a recomendação das recomendações: - Filha, nada de ir para o fundo, hein?

De lugares para chamar de meus


Desconfio que tenha achado o meu lugar em Barcelona.

Finalmente. Porque, em verdade, não há muitas coisas na cidade que me façam sentir acolhida e confortável. Talvez por eu ser esse pedaço de gente rodeada de catalães por todos os lados, talvez por uma série de outros motivos mais profundos que passam por minha cabeça...

De todo modo, passei um dia muito agradável na CaixaFórum de Barcelona. Três exposições - Isabel Muñoz, Jacques Henri Lartigue e Federico Fellini - entrecortadas por dois cafés com leite e uma sessão de curta-metragens espetaculares.

Verdade que falta um lugar qualquer para sentar ao sol - os 27 ºC e o céu azul pedem -, mas a arquitetura "catalã moderna", as cinco salas de exposições variadas, o café e esse "casal" que ora fala inglês britânico, ora ensaia o que parece ser um diálogo teatral (na minha versão romântica, claro, porque bem pode ser um diálogo de um curso de línguas...) em um idioma asiático, me fazem sentir bem. E o sol que entra por um dos janelões perto dos quais eu, estrategicamente, me posicionei.

Chinês! Ela, asiática, acaba de falar em seu inglês indefectível que o que eles ensaiam é chinês.

Eu sigo tomando o meu café lendo a brochura de Fellini, pois me preparo para a última exposição do dia.

E escrevo. E suspiro também, pensando que a vida deveria ser mais recheada de dias assim...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Tá bom, vou fazer um twitter, mas enquanto isso...

Com um gol marcado por um tipo que se chama Tshabalala, como é que eu não torço, meu Deus?

Da Copa do Mundo

Coisa mais triste é assistir à Copa aqui. Não sei se porque estou na Catalunha – e não sei até que ponto o resto do mundo faz idéia do quão quer ser distinta do resto da Espanha a Catalunha, chegando ao ponto de não torcer pelo seu país mesmo sendo a Fúria a favorita à conquista do mundial –, se porque no Brasil a coisa é muito mais visceral mesmo, fato é que, para se ter uma idéia, no canal de esportes daqui está passando... tênis.

Ando pela rua e na capa dos principais jornais... política (e velha disputa de misses entre  Zapatero e Rajoy).

Ninguém com a camisa de nenhum time.

Nenhuma bandeirola.

Nenhuma rua enfeitada ou pintada.

Nada de fogos de artifício.

O costumeiro silêncio sepulcral no horário da siesta desta sexta-feira, 11 de junho. Horário esse que combina com o do jogo de abertura África do Sul X México.

Nas varandas das casas a bandeira da Catalunha e, perdida e deslocada numa varanda qualquer, uma bandeira do Brasil.

Nas vitrines o verde e amarelo brasileiro se mistura ao rojo da Fúria.

Eu grudo os meus olhos na telinha, mas do computador. Feliz ao ouvir Galvão Bueno mais uma vez.

Gol da África do Sul. Arrepio. Olhos mareados. O grito de gol, que deveria ter saído emocionado, fica aí, quieto, estrangulado, esperando para extravasar as emoções na terça-feira.

Porque aí, ninguém me segura.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Curta

Juan deu uma de tuiteiro, vou imitar e fazer uma curtinha por aqui. Uma curtinha homenagem.

Olha, tenho que dizer, Amor de pai e mãe e irmãos é coisa do outro mundo.

E tenho dito.

domingo, 6 de junho de 2010

Porque nem tudo são flores...

Marselha foi bom demais, mas também serviu para eu saber que um ano e meio de curso de francês não me serviu de nada para conseguir me comunicar nessa língua latina.

Ói, essa coisa de aprender línguas é uma confusão sem fim! Outro dia mesmo conheci uma menina escocesa. Quer dizer, estávamos à mesa: dois italianos, sendo que um falava também espanhol e o outro inglês; uma espanhola que também falava inglês; duas brasileiras, uma que também fala espanhol e eu que falo inglês e espanhol (e, até Marselha, achava que arranhava no francês...); e uma escocesa, que também fala italiano. Olha, não precisa entender nada disso aí pra saber o que resultou da nossa conversa: CONFUSÃO.

Quem tiver a paciência (de Jó) pra se deter nessa explicação malamanhada vai perceber que não existia uma língua sequer que fosse comum a todos os "amigos" que estavam ali sentados. Então ja viu... Só que tinha uma escocesa, né. E eu a-d-o-r-o o sotaque escocês. Sério. Não riam. Eu sei, eu sei... Ela mesma fez cara de interrogação e estranhamento quando eu disse que adorava o sotaque escocês, mas eu adoro e fim. Daí que eu só queria conversar com ela e falar de viagens e de Escócia e etc. e tal. Só que a cabeça dessa amiga que vos fala não conseguia raciocinar inteligivelmente.

Decerto que o meu (minúsculo) chip detectou que aqui eu tenho que falar um segunda (terceira, quarta...) língua, o que ele ainda não sabe é diferenciar que as línguas que aí estão armazenadas são línguas distintas. Três línguas distintas, dá pra entender? Então, meu querido chip, eu não posso tentar falar inglês e pensar em espanhol, por exemplo. E, sabe o que mais? Oui não é espanhol, tampouco inglês, sabia? Pois é. Eureca! Além do português, as três línguas que estão aí são, sim, diferentes e uma frase do tipo "Je soy beautiful"realmente, não dá (apesar de que je ser mismo beautiful...). Eu sei, eu sei, é complicado esse negócio de línguas latinas e línguas anglo-saxônicas, a vida é dura, mas dá pra pra sair uma só língua, uniformemente, s'il vous plait?

E por que cargas d'água eu só pensava em espanhol? Agora veja, eu tinha que me lembrar de uma palavra estúpida qualquer em inglês, mas não conseguia lembrar dessa mesma palavra estúpida qualquer em espanhol e ficava muda. Sabe português, aquela minha língua materna e etc. e tal? Não faço a mínima idéia de onde tenha ido parar! Enfim, isso porque eu morei um ano na inglaterra. Agora imaginem eu em Marselha, me comunicando com os companheiros de viagem em espanhol e tentando perguntar ao garçom em francês onde era o banheiro: toilette havia sido completamente apagada do meu HD.

Agora eu estou assim, arrasada com o meu parco francês. Pensando seriamente em juntar os panos de bunda e aparecer por lá, assim, como quem não quer nada, pra ficar um mês e ver se alguma coisa dessa língua fica definitivamente na minha cachola.

Porque eu sou rica e desocupada, e os ricos e desocupados podem, entendeu?

sábado, 5 de junho de 2010

Da televisão espanhola (ou: daquilo que é impossível descrever em apenas um - quiçá em vários - post)

Em tese é uma mesa redonda para falar de temas sérios espanhóis: a crise, as próximas eleições, o presidente Zapatero, a oposição (idiota) que é representada por um tipo que se chama Rajoy, a união europeia, etc. São cinco homens engravatados e uma mulher (medonha, mas) bem vestida.

Dentre as discussões típicas dos programas (pseudo) políticos que tenho visto por aqui - ou seja, se Zapatero é ou não um bom presidente, se a crise vai ou não terminar por destruir a Espanha, quem é mais bonito: Rajoy ou Zapatero (essa é brincadeira...) e etc e tal - perguntam a opinião da tal mulher.

* Pausa para um adendo: hoje vi, pela primeira vez na vida, um disque vidente ao vivo. Entendam, ao vivo na televisão, se é que vocês não me haviam entendido. O programa é assim: as pessoas ligam e a fulana (Mãe Fulana?), devidamente paramentada (fantasiada?) bota as cartas. Ela pergunta, se referindo à forma como deve partir o baralho cigano: "De cima ou de baixo?"; "Da esquerda ou da direita?". Em seguida dá as previsões: dinheiro, amor, trabalho, família... Pequena pausa para cara de espanto. (...) Precisa mais comentários? *

Então, voltando, o mediador da mesa redonda, engravatado, pergunta à tal mulher de tailleur o que ela achava que ia acontecer diante da crise, quais seriam os caminhos do PSOE - o partido de Zapatero, a "esquerda" daqui - e o que aconteceria com a vice-presidente do partido. Eu fico esperando, atenta, a resposta da única mulher à mesa, a representante da emancipação e independência feminina, aquela que vai mostrar a sensibilidade aliada à inteligência! A senhora distinta, então, respira fundo e se prepara para responder à pergunta: tira as suas cartas ciganas, vira as três que estão no topo do baralho e diz: "ela não vai mais ser vice-presidente, mas vai seguir tendo um cargo público".

(...)

Pausa definitiva para a cara de espanto.

Um final de semana em Marselha

Muito bom lugar para comemorar meu aniversário. Ainda mais depois que decidi, há três anos, que faria uma contagem circular. É ótimo me sentir um pouco mais madura ao completar (de novo) 27 anos e evita comentários que incluam as expressões balzaquiana, balzaca e o novíssimo verbo "balzacou". Sem mais comentários, e, seguramente, sem traumas, parabéns para mim!

O ruim foi aumentar ainda mais o meu desespero. A gente sabe que o mundo é grande porque vivem dizendo isso para a gente. Aí vem a maravilhosa tecnologia do transporte aéreo e, em oito horas, a gente chega de Salvador a Madri. Em 20 horas, sei lá, se vai de Salvador a Tóquio. Nesse ponto eu já estava até pensando que nem é taaaanto assim. É grandinho, mas devagar e sempre, de grão em grão a galinha enche o papo, entre outros ditados populares, a gente chega lá. Mas, gente, o mundo é grande. E Marselha é linda! Serviu pra derrubar a minha argumentação de supervalorização da América da Latina, pois eu costumava dizer que a Europa é legal pelo que tem construído mas que nada bate Chile, Peru e Bolívia no quesito belezas naturais e blablabla... Me lenhei. Marselha é naturalmente linda. E é só um pedacico pequetitico da França, gente. E o resto? O resto da França, só, não. O resto da Europa. A Ásia, a Oceania e um terceiro continente à sua escolha. O resto do mundo! O que fazer pra conhecer tudo? Só cortando os pulsos com bolacha maria...


Essa aí sou eu em Marselha no que deu tempo de a gente ver d'les Calanques. Foto de Juan Torres. Tava um vento danado, por isso essa minha cara meio de desespero, meio de felicidade, mas, mãe, não se preocupe que eu me segurei bem pra não cair. Isso foi bem no dia 30, um sol lindo só pra mim. A costa mediterrânea entre Marselha e Cassis possui 12 calanques, que são esses despenhadeiros com vistas lindas (enseadas, pela tradução do google) e um mar azul, azul, azul. Coisa mais linda de meu Deus.

Agora licencinha aqui, que eu tenho que vender o meu corpo para conseguir mais e mais dinheiro. Como já disse, o mundo é grande e navegar é preciso...