segunda-feira, 29 de março de 2010

De artistas de rua e esmolinhas

Artista de rua tem no mundo inteiro, mas muito mais na Europa. Não sei se por conta da crise, porque se ganha bom dinheiro fazendo arte na rua, por falta do que fazer em casa depois do expediente, vontade de dar uma de estátua em Las Ramblas, não sei. Fato é que vc tropeça neles por minuto vestidos de pedra (pedregulho, até) e estátuas de pedra, rainhas e reis, tocando acordeão, violino, flauta, harpa...

Anteontem vimos aqui no bairro de Gràcia, em Barcelona, uma ‘bandinha’ de rua que consistia em: três saxofones, duas cornetas, dois trompetes, um clarinete, um reco-reco (?), um bumbo-prato-e-outra-coisa-que-não-sei-que-fazia-percussão. 10 pessoas. Dez. Dez artistas de rua. Uma banda inteira! Animadíssimos. Abaixavam e levantavam, animavam a criançada, corriam com seus enormes instrumentos por entre a audiência...

Ontem vimos um grupo de Flamenco no bairro de Barceloneta: um guitarrista flamenco, uma cantora (e pseudo dançarina), um cajón, um bandolinista (o instrumento era outro, mas não sei o nome), um ‘vendedor de discos’. Cinco pessoas. E um cachorrinho branco sentado no colo do bandolinista que quase me fez cometer suicídio por não ter levado a câmera. Ou seja, seis bocas para alimentar.

Não tem esmola que aguente.

Eu mesma, não dei dinheiro nenhum ainda. Não que eu ache que eles não mereçam. Na verdade eles se utilizam de uma tática manjadíssima, mas que me consome. Explico. São muito bons artistas, muito bons mesmo. Os músicos, então... Andar pelo centro de Madrid, no meio de uma confusão de turistas e madrileños, e ouvir música clássica, eu vos digo: mastercard.

*Em tempo: se não me engano eram dois violinos, um violoncelo e mais alguma outra coisa. Vi de longe, mas, por baixo, quatro.*

O meu problema é que, simplesmente, no tengo plata. Já disse antes: NO. TENGO. PLATA. E a tática deles consiste em, justamente, me matar aos poucos, diariamente, de culpa por adorar ouvir cada coisa que eles tocam. O pior é que, pra não me sentir obrigada a esvaziar, pelo menos, o compartimento de moedas da carteira, tenho que passar correndo, com a mão nos ouvidos dizendo “Não! Não! Não! Vocês não conseguirão me convencer!” (Desconfio que essa cena seja um show à parte, dado ao fato de que, às vezes, até jogam umas moedinhas pra mim...).

As pessoas se instalam ali, no meio da Plaza Mayor, em Las Ramblas, no metrô, eu TENHO que ouvir. Sou obrigada a ouvir. Compelida!

(...)

Ai, Deus!!!! Graças a Deus que eu ouço!!!!!! E morro de remorso por não poder dar o dinheirinho a eles... Eles jogam com a minha culpa! Ficam bem ali, onde sabem que eu vou passar, sabem que é impossível não gostar, sabem que vão me deixar culpada!

No dia que eu for rica, vou bem distribuir dinheiro a artistas de rua mundo afora. Agora, ainda, não, mas quando eu for rica...

Um comentário:

Ilana Marques disse...

hahahahahhahahahahahahahaha

pelo menos é uma culpa boazinha......

te amo!!!!

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