domingo, 25 de julho de 2010

Domingo no parque

No silêncio que segue os aplausos da audiência, passa uma menininha. Uns dois anos, se muito. Empurrada no carrinho de bebê, gritacom as mãozinhas em riste, os dedinhos bem abertos, naquele gesto infantil de bater palmas –: “¡Bién! ¡Vamos!

E aplaude. Sozinha.

Ao meu lado esquerdo um senhor. Espanhol. Não pela cara branca, as bochechas vermelhas, a estatura e o porte, mas, sim, pelo jeito como, ao gracejo da menina, tentava segurar o riso. Um riso largo, eu vi, mas não pelo que expressava o canto de sua boca, o músculo contraído, mas pelo quão radiantes estavam os seus olhos...

E a Banda Municipal de Madrid seguiu tocando outros clássicos no coreto do parque do Retiro, ao sol de meio-dia.

Domingo, 25 de julho de 2010.

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Uma última música. Inesperada. Fora do programa. Quando todos se punham de e recolhiam suas cadeiras, encostando-as às árvores, devolvendo-as.

Um público maduro: penteados, cabelos grisalhos, chapéus e leques. Ao som dos primeiros acordes inesperados, param. Ainda de , aplaudem. Incomum aplaudir depois que uma orquestra começa a tocar... Aplaudem efusivamente.

Em seguida, e ao longo de todo o pasodoble, ouve-se o acompanhamento – não ensaiado – murmurado, tímido. Por todos os lados. Preenchem mais do que a música. Naqueles murmúrios, o regozijo de tempos que não voltam mais...