sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ainda...

O jogo acabou tem mais de quatro horas, mas eu sigo com a camisa do Brasil. Não quero tirar, mesmo. Sei lá, não estou com vontade de fazer nada, estou sentada com cara de paisagem olhando coisas no pc, ouvindo o jogo do Uruguai e curtindo a minha fossa com a camisa do Brasil.

Eu estava conversando com Carol e com Cássio, brasileiros que moram por aqui há muitos anos, e ambos torcem contra a Espanha. Cássio chegou a dizer que é contraditório e tal, e até deu uma torcidinha no jogo contra Portugal, mas não terminamos de analisar o que acontece.

Juan conseguiu expressar tudo o que eu acho que se sente aqui e o motivo pelo qual eu não quero tirar a camisa do Brasil. Queria mais era sair com ela agora pela rua – nós, brasileiros, eliminados, a Espanha ainda por jogar. Sei lá. Queria mostrar ao mundo que eu tenho orgulho, sim, e que não é essa derrota que vai nos abater.

Eu podia só colocar o link do blog dele e fazer referências e tal, mas não estou a fim, vou copiar tudo mesmo. Porque é um texto que merece ser reproduzido e reproduzido e reproduzido...

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Quero minha mátria
02/07/2010 por Juan Torres
Escrevo no impulso. Não li uma linha de nada de repercussão sobre o jogo. Não sei o que o Dunga justificou, se o Felipe Melo se desculpou, se o Julio César chamou a responsabilidade. E escrevo agora porque, agora, nada disso me interessa.
Quando estamos fora do nosso país, e mais quando estamos no primeiro mundo, onde em toda parte nos recordamos – ou nos recordam – que viemos do terceiro, uma mensagem – qualquer mensagem – de afirmação é vital. Não se trata de nacionalismo. Estar longe do Brasil é estar longe da família, dos amigos e de todas as referências culturais que nos formaram e que nos constituem. E, ao estar longe, é natural procurá-las. Por isso, comer uma feijoada, ouvir um samba e falar português de vez em quando é revigorante. Ver a seleção jogar também. Encontrar um amigo querido em Madrid ou receber um familiar por aqui não é a mesma coisa que fazê-lo de volta ao Brasil. Fazer tudo isso no Brasil é como estar dentro do útero. Fazê-lo fora é sentir a força do cordão umbilical.
Nesse desconfortável mundo extra-uterino, ver a seleção perder é sentir um forte abalo nessa ligação. É sentir que algo interrompeu o fluxo de alimento. E sentir-se desamparado. Fraco. Vulnerável aos tapas na bunda. E aí, só resta chorar.
* * *
Assisti ao jogo num pub, junto com muitos brasileiros e alguns poucos holandeses. Chorei esta eliminação como não chorei a de 2006. Em parte, por estar aqui, mas por outro lado porque me identificava com esta seleção muito mais do que com aquela do quadrado mágico que mereceu tomar bem no meio do círculo central mesmo.
Esta não. Falem o que quiserem, de esquema tático, de cabeças de área, de que Dunga é ranzinza, do diabo que o parta, mas Felipe Melo, Maicon, Daniel Alves, Elano, Lúcio – Lúcio! –, Juan… são gente como eu e você. Trabalham (sério), como eu e você. Fazem tudo certo na maior parte do tempo, como eu e você. Tiveram uma falta de atenção em um segundo, como eu e você. E pagaram o preço, como eu e você. E o que quereríamos eu e você nesse momento? Pois é. Sim, nós desculpamos. E que venha 2014!