sexta-feira, 16 de julho de 2010

Hace calor... Hace mucho calor

São 38ºC. Pelo menos é isso que marca um dos termômetros na rua. Mas a sensação é essa mesmo, de 38ºC. Não que eu soubesse o que era uma sensação de 38ºC, em Salvador mal passamos dos 30ºC nos picos do verão, maspara perceber que isso é uma sensação de 38ºC.

É um bafo quente. O calor de Salvador nem se compara.

* Lembro de ter sido assim numa viagem de carro Salvador – Fortaleza, atravessando o sertão. Meu avô dirigindo, minha avó ao lado, eu, mãe e irmã no banco detrás. O carro era um monza bem legal, mas, com certeza, frustrado, porque muito subutilizado. O ar-condicionado permaneceu desligado as vinte a tantas horas de viagem. A expressão “ar-condicionado desligado” nunca deveria ser usada em uma frase que se refira ao sertão nordestino. Se ele – o ar-condicionado – existe, se está aí, tem uma missão quase celestial de permanecer ligado enquanto passa pelo sertão nordestino. Desconfio até ser uma heresia mantê-lo desligado. Mas meu avô que acerte as contas com o Divino... Eu, minha avó, mãe e irmã tivemos que acertar as contas com a desidratação, prostração e miragens associadas ao bafo quente que insistia em entrar pela janela escancarada. Igualzinho a Madri.*

É uma quentura diferente. Eu, em Salvador, peguenta e tomando um banho de mar a cada dois minutos, nunca pensei que aquilo era úmido e que havia no mundo verões secos. Claro que o deserto é seco e tal, só que nunca me detive a pensar em que Salvador era úmido – por isso a sensação de muito calor, abafado – e que em outros lugares era seco. Pois aqui a relação úmido X seco se junta às mil e uma comparações entre Barcelona e Madri. Barcelona úmido, Madri seco.

Como está mais quente do que a temperatura normal do corpo humano, a gente, fresquinha depois do banho, pega a toalha para se enxugar e a dita cuja está morna. Veste a roupa que está morna, come um biscoito que, à temperatura ambiente, está morno, tem instinto de sentar nas prateleiras da geladeira e fazer a siesta aí e etc.

A gente lava roupa, toalha grossa, lençol, essas coisas, e elas estão secas em menos de duas horas. Isso porque o varal fica dentro de casa onde nunca bate sol. Dentro de casa, inclusive, é o lugar mais fresquinho do mundo.

E a gente não sua. Fica sequinho. Dorme bem que é uma beleza e ontem até estava um ventinho fresco à noite. Aqui, de fato, funcionam e fazem sucesso aqueles ventiladores que soltam gotículas de água que foram um fracasso de público e crítica quando tentaram colocar em alguns bares de Salvador. Aqui se usa leque. Muito. E é lindo.

Eu acho importante que as pessoas sejam avisadas de que, sim, definitivamente terminou a primavera e que não é permitido, mas uma necessidade premente, que se tome mais de um banho por dia. Pelo menos dois. E que o primeiro, por favor, seja pela manhã antes de sair de casa e compartilhar comigo um vagão do metrô. Aqui em casa estão sobrando uns desodorantezinhos que Juan ganhou de brinde. Assim que, se querem...