sexta-feira, 2 de julho de 2010

De bagagem e incompetência

A situação é vergonhosa.

Acompanhem o raciocínio: eu trouxe dois cremes hidratantes perfumados que meu pai me deu de presente e que eu guardava a sete chaves no Brasil. Nunca os usei . Ato contínuo, nunca os usei aqui.

Eu trouxe algumas poucas roupas de trabalho – “algumas poucas” porque eu imaginei o seguinte: se começo a trabalhar, terei dinheiro pra comprar outras, óbvio. Eu trouxe um único sapato de trabalho. O meu único sapato de trabalho não combina com as minhas algumas poucas roupas de trabalho.

Calma. Fica pior.

Eu trouxe uns pincéis de maquiagem que comprei há séculos e nunca tinha usado todos no Brasil. Eu nunca soube para que funcionam todos aqueles 17 pincéis. Eu tenho aqui, porque vieram na minha bagagem – uma mala (enorme), um mochilão e uma mochila para o pc e otras cositas más que, ao todo, pesavam uns 40 quilos –, 5 pincéis só para aplicar blush. Eu não sei para que serve especificamente cada um deles. Eu só uso dois (dos 17, não dos 5).

Eu trouxe livros em português. Livros. Livros, gente. Vejam bem, livros pesam. Livros pesam demais. E eu trouxe todos eles em português. Quem aqui quer ler livros em português?

Eu trouxe blusas que eu adorava e não usava mais no Brasil. Vou repetir: eu adorava, sim, mas eu não usava mais nem no Brasil.

Eu trouxe uma blusa específica que eu sequer lembrava que ainda existia até começar a fazer a mala para vir para cá. Alguém me explica isso?

Eu sabia que queria fazer flamenco e etc e tal. Trouxe collant, sapato, saias... Leiam de novo: saiaS. Eu trouxe duas saias. DUAS. Deve ser porque eu uso uma em cima da outra. É isso. Eu uso duas saias ao mesmo tempo.

Eu não trouxe nenhuma sandália alta.

Eu trouxe quatro diferentes necessaires com produtos repetidos em cada uma delas.

Eu tenho três pinças de sobrancelha.

Agora, arrumando as malas pra o traslado Barcelona – Madri, estou classificando os meus pertences em: coisas a deixar para trás; coisas a doar para os necessitados; coisas a queimar; coisas a dissolver em ácido; coisas a atirar pela janela só de raiva e coisas a deixar como lembrança da minha incompetência em arrumar malas.