quarta-feira, 14 de julho de 2010

Tempo

Não vai dar tempo.

Não vai dar tempo agora, porque nunca, para nadatempo.

É assim. A vida é assim, mesmo. Quando vemos, acabou.

Já acabou a promoção e eu não comprei, já acabou o verão e não tenho bronzeado, já acabou o inverno e eu não vi neve – tampouco comprei, e usei, uma infinidade de cachecóis, echarpes, pashminas e gorros; e um trench coat –, já acabaram as férias e não fizemos aquela viagem, já acabou a infância e não subimos em todas as árvores, comemos manga, caju e jambo, já acabou a adolescência e eu não aprendi a cantar Faroeste Caboclo, acabou a faculdade e eu não joguei todo o dominó que deveria, nem fui em todos os Adm Bar, muito menos virei revolucionária (de verdade) do movimento estudantil, acabou o mestrado e eu não fiz amizade com todos os professores, acabou a amizade e eu não peguei o e-mail, acabou o maltado da Cubana e eu não suguei, mal educadamente, até a ultima gota, acabou o pôr-do-sol e eu não me alonguei naquele beijo, acabou o luar e eu não aproveitei a areia da praia, acabou a seresta e eu não aprendi todas as músicas de Dolores Duran e Nelson Gonçalves, acabaram-se as pontas dos dedos e eu não aprendi violão, acabou o filme e eu não anotei a trilha sonora, acabou o livro e eu não marquei aquele trecho, aquela frase, acabou o dinheiro, a exposição de fotografia, o concerto ao ar livre, a exposição de pintores impressionistas, o tempo de tirar o dinheiro do investimento da Vale, os prazos.


Acabou.


Porque acaba e nuncatempo de tudo, mesmo.